E aqui estamos novamente, e conforme prometido na edição anterior, vamos continuar falando sobre absorvedor de energia. Na matéria anterior falamos um pouco sobre a função do absorvedor de energia, suas características, aplicação, e principalmente o quanto é fundamental para a proteção do usuário em uma queda com diferença de nível. Mas não só o colaborador deve ser observado quando falamos de absorvedor de energia.
O absorvedor de energia é parte integrante do elemento de ligação (talabarte ou trava-quedas), e para completar o SPIQ (Sistema de Proteção Individual Contra Quedas) falta um item muito importante, o ponto de ancoragem.
Hoje vamos falar sobre o absorvedor de energia, porém pela ótica do ponto de ancoragem.
O anexo II da NR-35 trata do sistema de ancoragem, definido como um conjunto de componentes que incorpora um ou mais pontos de ancoragem, aos quais podem ser conectados os EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) contra quedas, diretamente ou por meio de outro componente (Talabarte ou Trava-quedas).
Quanto a resistência máxima suportada pelo ponto de ancoragem, ele deve ser capaz de resistir à força máxima aplicável, entretanto, esta força vai variar de acordo com três fatores, sendo eles: Massa corpórea do colaborador, fator de queda e absorção de energia.
Em artigos anteriores falamos sobre os fatores de queda, então hoje vamos nos ater a absorção de energia, ok.
Vejamos uma situação hipotética, onde um colaborador de 100Kg, utilizando um talabarte de 0,90 metros, sem absorvedor de energia, irá se ancorar em uma viga tipo H de 6 polegadas, com fator de queda 2 (dois). Considerando a aceleração como 10 m/s², esta equação pode chegar a uma energia máxima aplicada ao ponto de ancoragem de 1800Kgf ou 18N. Neste momento cabe avaliar se o ponto de ancoragem é capaz de resistir a esta força aplicável? Além disto, se o ponto de ancoragem for uma linha flexível, como uma linha de vida horizontal em cabo de aço, deve-se aplicar neste cálculo o momento de flexão da linha de vida (flexa), e considerar o potencial distribuído nas extremidades desta linha de vida, onde ocorre uma força chamada Momento, gerando um torque na ancoragem, onde o torque é uma grandeza vetorial que resulta do produto entre uma força aplicada perpendicularmente em um ponto e a distância da região de aplicação da força e o eixo de rotação. Assim, as forças aplicadas ao ponto de ancoragem podem ser potencializadas ao quadrado (T²) se a linha de vida for flexível. Logo, na situação hipotética acima, se considerarmos uma linha de vida flexível, a força poderia chagar a 3600Kgf ou 36N aplicada ao ponto de ancoragem.
Horas, se agora sabemos da dimensão desta força, percebemos que o ponto de ancoragem deve ser protegido destas grandezas, logo conseguimos entender que o absorvedor de energia protege também o ponto de ancoragem. Conforme vimos na edição anterior, o absorvedor de energia reduz as energias geradas em uma queda a valores inferiores a 600Kgf ou 6N, no caso hipotético acima o absorvedor teria reduzido 3000Kgf ou 30N aplicando no máximo 600Kgf ou 6N ao ponto de ancoragem.
Veja então vocês, o absorvedor de energia é quase um X-Men, tem diversos poderes. Mas não se deixe enganar, a análise de risco ainda é a principal ferramenta para determinar qual o melhor ponto de ancoragem, e assim emitir a Permissão de trabalho com segurança.
O absorvedor de energia é apenas uma das inúmeras ferramentas disponíveis.
Como disse Sun Tzu “evite a força, ataque a fraqueza”.